A Paixão de Joana d'Arc, de Carl Theodor Dreyer


FICHA TÉCNICA

1928 / 97 min. / Biografia, Drama, História

Direção: Carl Theodor Dreyer

Elenco: Maria Falconetti, Maurice Schutz, Alexandre Mihalesco etc. 

Nacionalidade: França


Antes de tudo, A Paixão de Joana d’Arc é mais uma prova decisiva da beleza do cinema mudo. Superados os problemas de cunho pantomímico surgem os obstáculos mais graves: explorar o julgamento e o martírio de uma santa. Mas quando essas dificuldades entram em resolução, o cinema enquanto arte do belo atinge seu propósito original que, segundo Carlos Nougué, é a elevação do espírito humano por meio da beleza. 


É o presente caso, pois mesmo lançado em preto e branco é considerado um dos maiores filmes de todos os tempos. 


Dirigido por Carl Theodor Dreyer, o filme não tem outra intenção que narrar “a mais empolgante e quase inverossímil história de santos [...], a heroína de 19 anos, guerreira, sem nunca ter ferido alguém, comandante de exército e mártir da pátria e da fé” (CONTI, 1983, p.289). Vários conflitos e seus respectivos atores, revelando a instituição religiosa manipulada por interesses políticos na tentativa de descredibilizar a santa e condenar a heroína.


A direção é excelente, principalmente pelo intenso foco psicológico, realismo austero e experimentação formal. A principal nota desse cineasta dinamarquês é a simplicidade e a pureza de estilo sem se opor à intensidade, marcado por um método que busca a beleza da imagem e a acuidade no pensamento das personagens.


No elenco, belíssimas atuações, destacando Renée Jeanne Falconetti (como Joana d'Arc) e Eugène Silvain (como o Bispo Pierre Cauchon).


Integrado por close-ups, o filme destaca um conjunto de cenas focadas com as expressões faciais e o drama emocional da personagem. Produção inovadora que em vez de focar nas batalhas épicas, explora o sofrimento, a fé e a força interior da Virgem Joana d’Arc. Num tom intenso, angustiante e transcendental, é um drama claustrofóbico, apesar de muita piedade que não somente faz confiar em Deus, mas, principalmente, amá-Lo. 


O close-up justapõe a pureza e o sofrimento de Joana com a crueldade e o fanatismo dos seus inquisidores. Reforça a ideia de E. H. Gombrich (2022, p. 106) quando diz que “representar a ‘atividade da alma’” era o que “Sócrates exortava aos artistas fazerem, observando minuciosamente o modo como ‘os sentimentos afetam o corpo em ação’”.


O movimento fisionômico e corporal da atriz para expressar a atividade da alma se compara à exortação socrática, já que a atriz narra com o corpo a alma de uma santa, pelo jogo fisionômico que olha para o alto num frenesi de agonía, súplica, devoção e piedade. O movimento dos músculos transmitem a ideia de esforço e sofrimento na luta desesperada, na expressão de dor, nas contorções impotentes.


O filme A Paixão de Joana d’Arc, enfim, ratifica aquilo que Mário Ferreira dos Santos (1962, p. 56) pensa ao dizer que “os tempos religiosos deram à arte seus momentos mais altos”.


REFERÊNCIAS


CONTI, Dom Servilio. O Santo do Dia. Petrópolis: Vozes, 1983.

GOMBRICH, Ernst Hans. A História da Arte. Rio de Janeiro: Editora LTC, 2022.

SANTOS, Mário Ferreira dos. Convite à Estética. São Paulo: Editora Logos Ltda, 1962.


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